terça-feira, abril 16, 2002

A SOCIEDADE DO SISTEMA

Ok... ok... ok... Me enviaram isso e, ent?o, tou colocando aqui:
OBS.: É longo (MUUIIIITTTOOOO LONNGO!) por isso se quiser ler, é por sua conta e risco! (nossa, onde escutei isso? Que coisa mais tosca que escrevi agora -_-).

"
Em primeiro lugar, minhas mais sinceras desculpas!
N?o foi minha intenç?o enviar várias vezes o capítulo X de O Senhor dos Sistemas!
Eu uso o Um Sistema Operacional aqui no meu computador, ent?o estas falhas acontecem de vez em quando!
Em segundo lugar, muito obrigado, Danielle! Estava arrancando os cabelos tentando atender a todos os pedidos de capítulos separados, e sua ajuda foi de grande valia!
Em terceiro lugar, gostaria de informar que a segunda e a terceira parte da saga n?o v?o ser gratuitas. Voc?s podem assiná-las por apenas R$ 29,99, e v?o sair apenas em dezembro de 2002 e 2003, respectivamente. Ei, ei, calma! Este parágrafo foi de brincadeira!
Aqui vai a compilaç?o de todos os capítulos até agora. Aguardem a próxima parte, AS DUAS EDITORAS, onde a barra vai pesar pro lado do Cassaro, do Debbio, Tormenta, dos f?s de anime e mangá e equipe da Drag?o Brasil (sem ressentimentos!).

Aqui vai a EDIÇ?O DE COLECIONADOR de A SOCIEDADE DO SISTEMA, com todos os horríveis e bárbaros erros de portugu?s corrigidos.

Abraços a todos!

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A SOCIEDADE DO SISTEMA
Primeira parte de O Senhor dos Sistemas

Tr?s Sistemas para a Steve Jackson Games sob este céu,
Sete para a White Wolf, em seus corredores rochosos,
Nove para as editoras alternativas, fadadas ? eterna fal?ncia,
Um para a TSR em seu escuro trono
Na Terra da Wizards of the Coast onde a Grana se acumula.
Um Sistema para a todos governar, Um Sistema para encontrá-los
Um Sistema para a todos trazer e na escurid?o aprisioná-los
Na Terra da Wizards of the Coast onde a Grana se acumula.

PRÓLOGO

O Mercado mudou. Eu sinto isso nos livros. Eu sinto isso nas mesas de jogo. Eu farejo isto nas lojas. Muito do que era se perdeu, pois ninguém mais tem os livros para que eu tire xerox.
Tudo começou com a criaç?o dos Grandes Sistemas. Tr?s foram criados por Steve Jackson, imortal, o mais sábio e justo dos seres. Sete pela White Wolf, grandes escritores e designers da linha Storyteller. E nove, nove foram criados pelas editoras alternativas da Europa, que acima de todas as coisas desejavam inovar. Pois nestes sistemas estavam o poder e a vontade de proporcionar divers?o a cada tipo de jogador.
Mas eles todos foram enganados.
Pois na Terra da Wizards os the Coast, a editora negra TSR criou outro sistema, um sistema-mestre, e neste sistema ela colocou toda a sua crueldade, sua malícia e sua vontade de dominar cada mesa de jogo.
Um Sistema para a Todos Governar. Uma por uma, as mentes livres da Terra caíram sob o poder do Sistema. Mas houve quem resistisse: Uma última aliança de jogadores tradicionais se recusou a mudar de sistema e compravam outros títulos, e diante das prateleiras das lojas e importadoras, lutavam pela liberdade dos RPGistas. A vitória estava próxima, mas o poder do Sistema n?o podia ser desfeito.
E neste momento, quando toda a esperança havia desaparecido, a Devir, seguindo os passos da Abril, resolveu traduzir o sistema. Os direitos de publicaç?o passaram para a Devir, que teve a chance de destruir o mal para sempre. Mas o coraç?o dos homens é facilmente corrompido, e o Sistema tem vontade própria.
O Sistema chegou ?s m?os dos mestres brasileiros, que o levaram para suas casas, e ali, ele os consumiu.
"- Ele veio para mim, meu amor, meu precioso....."
O Sistema trouxe aos cenários de fantasia medieval uma longevidade n?o natural, e por muitos anos, ele envenenou as mentes destes mestres, e na escurid?o das casas deles, ele esperou. A escurid?o voltou ?s mesas de jogo de todo o mundo, rumores se proliferavam sobre uma sombra no Norte, sussurros sobre um grande golpe de mercado da Wizards of the Coast, e o Sistema percebeu que sua hora havia chegado.
Ele abandonou estes mestres, mas ent?o, aconteceu algo que n?o estava nos planos do Sistema: ele foi pego pela criatura que menos se podia imaginar: um jogador inteligente, de GURPS.
"- O que é isso? Um sistema?"
E chegará, ainda, o tempo em que os jogadores de GURPS governar?o o destino de nós todos.


CAPÍTULO I
UMA SESS?O DE JOGO MUITO ESPERADA


Foi com muita satisfaç?o que o mestre de jogo anunciou a nossa sess?o de jogo de número 111. Todos os jogadores que já passaram pelo grupo foram convidados: os Combistas, os Apel?es, os Overpowers, os Advogados-de-Regras, os Barrabás, e até mesmo os Sacola-Combistas, que eram famosos por seus combos poderosos que acabavam com a graça de qualquer batalha.
Quase todos do grupo estavam envolvidos na preparaç?o da sess?o, e o próprio mestre n?o atendia o telefone para ninguém que n?o estivesse tratando da sess?o. Pois era uma sess?o de jogo muito esperada, a de número onzenta-e-um, e vários jogadores que n?o compareciam há tempo apareceram. E todos os jogadores do grupo se entusiasmaram com as promessas de grandes recompensas em experi?ncia, pois sabiam que o mestre era generoso nesta parte. Diziam que ele guardava grandes quantidades de experi?ncia em algum lugar do Bols?o (era aquele bolso grande na pasta do mestre onde ele guardava as suas anotaç?es).
E assim aconteceu. Antes de iniciar a sess?o, todos comeram salgadinhos e bolachinhas recheadas, e tomaram muita Coca-Cola, principalmente "Fatty Banha", o nosso jogador mais gordinho, para desespero da m?e do mestre, que, semana após semana, via a sua despensa esvaziada por aquela tropa de jogadores esquisitos e folgados.
Mas, antes de iniciar a sess?o, o mestre reuniu todos ao redor da mesa e disse:
"- Meus queridos jogadores! Onzenta-e-uma sess?es é um período muito curto para ter mestrado entre jogadores t?o excelentes e admiráveis! Eu conheço menos da metade de voc?s mais do que o dobro do que gostaria, e já dei mais do que o dobro da experi?ncia por interpretaç?o que voc?s mereciam por coisas que em grupos sérios voc?s n?o ganhariam nem a metade" - Todos os jogadores se entreolharam confusos, mas o mestre continuou - "Eu tenho coisas a fazer. Eu venho fazendo isto por muito tempo. Eu anuncio, com pesar, que este é o fim. Eu devo parar agora. Desejo a todos adeus."
E, dizendo isto ele colocou o Anel (na verdade, sua aliança de noivado, pois sua namorada estava enchendo seu saco há muito tempo dizendo que já era hora de largar o RPG, arranjar um emprego e noivar), e, para espanto de todos, desapareceu do meio rpgístico no mesmo momento.

CAPÍTULO II
UMA SOMBRA DO MERCADO


Estes foram fatos estranhos e espantaram a todos. Como n?o ia mais utilizar todo o seu material de RPG, eu fiquei com tudo, inclusive com a pasta grande de couro que ele utilizava, a que tinha um Bols?o. E assim as coisas transcorreram com relativa tranqüilidade, até que um amigo meu, outro mestre, veio me visitar.
Conversávamos sobre vários sistemas e campanhas, e, no momento em que eu mencionei que os jogadores do meu grupo cogitavam abandonar tudo para jogar apenas d20, ele levantou uma de suas sobrancelhas.
"- Deixe-me ver o livro", disse ele.
"- Aqui está."
Logo que ele tomou o livro em suas m?os, o colocou no microondas e o ligou na pot?ncia máxima. Muito espantado, eu tentei impedi-lo, mas ele me parou, e depois de algum tempo disse:
"- Pegue-o. N?o se preocupe, está frio."
Peguei o livro em minhas m?os, estava frio, e sensivelmente mais pesado.
"- Leia o que está escrito na capa."
"- Dungeons and Dragons, 3° ediç?o... Livro do Jogador... Espere! O que é isso?"
Um tipo de inscriç?o começou a aparecer na capa e na contracapa do livro. Era fina, como eu nunca tinha visto antes, e brilhava com um brilho profundo e avermelhado.
"- Eu n?o consigo ler muito bem... o que está escrito?"
"- Poucos conseguem ler. Está escrito na língua negra da TSR, a qual eu n?o me atrevo a pronunciar aqui. Mas em língua portuguesa comum quer dizer : Um Sistema para a todos governar, Um Sistema para encontrá-los Um Sistema para a todos trazer e na escurid?o aprisioná-los"
"- Este é o Um Sistema", continuou, "o sistema criado e impresso pela TSR nas prensas da Wizards of the Coast."
"- N?o pode ser! Meu antigo mestre o achou na prateleira da Planeta Proibido!"
"- Sim, e por algum tempo ele ficou aqui, junto com os seus pertences. Mas agora o Sistema acordou. Ele ouviu o chamado da TSR."
"- Mas ela foi destruída! A TSR foi destruída!"
"- N?o, querido amigo. Ela foi apenas comprada pela Wizards of the Coast. Seu espírito está ligado ao Sistema, e o Sistema prosperou. Seus jogadores se proliferam por todo mundo. Sua fortaleza aqui na cidade, em Panet-D?r, foi reconstruída. Ela precisa apenas deste Sistema para cobrir o mundo com um imenso lapso criativo. Eles s?o Um, o Sistema e a TSR."
"- Tudo bem. Vamos manter este livro escondido. Vou colocá-lo aqui, junto com a minha coleç?o de Novos Tit?s e com o meu Almanaque do Escoteiro-Mirim, e nunca mais vamos falar dele. Vamos apenas jogar GURPS Supers, GURPS Viagem Espacial, Call of Cthulhu, ou mesmo AD&D Segunda Ediç?o. Ninguém sabe que temos o livro, certo?" Meu amigo continuou silencioso. "- Certo?"
"- Havia mais alguém que sabia do livro." Ent?o ele abriu a última página e eu percebi que o formulário para receber a Dragon Magazine foi enviado. "- Logo as revistas v?o começar a chegar, e quando seus jogadores verem, será tarde demais. Eles v?o querer jogar aquelas aventuras prontas horríveis, e voc? vai colocar aqueles NPCs prontos estúpidos e deprimentes nas suas histórias."
Ouvindo isso, eu ofereci o Um Sistema a ele, e disse:
"- Voc? deve levar este livro, pegue-o!"
"- Voc? n?o pode me oferecer isto."
"- Pegue-o! Eu o dou para voc?!"
"- N?o me tente! Eu n?o ouso mestrar isso, mesmo que a arte seja boa. Eu usaria isto com um desejo de fazer o bem, mas logo me viciaria e meu livre-arbítrio desapareceria."
Eu perguntei, ent?o, com muito medo:
"- O que eu devo fazer, ent?o?"
"- Voc? deve ir, e rápido. Saia de sua casa. Pegue o ônibus e vá para o Centro."
"- E voc??"
"- Eu vou esperá-lo no McDonalds do Centro. Mas antes eu devo ir consultar uma pessoa."


CAPÍTULO III
UM ATALHO PARA O MACDONALDS


A conversa que eu tive com este meu amigo, um dos cinco mais antigos mestres da cidade, foi o suficiente para me convencer de que eu corria grande risco. Seguindo suas recomendaç?es, saí imediatamente de casa, mas n?o sem encontrar na porta de casa meu amigo Samuel. Ele vinha, como de costume, me pedir para liberar que o personagem dele tivesse 312 pontos de desvantagens - todas plenamente justificáveis, segundo ele - ao invés dos 40 que o GURPS sugere. E, claro, puxar o meu saco o quanto fosse necessário até que eu aceitasse este absurdo. Eu disse a ele, logo que o vi:
"- Eu n?o posso falar agora, Samuel. Estou apressado e correndo grande perigo."
"- N?o me diga! Pois eu vou junto com o senhor, mestre! Vou proteg?-lo de qualquer perigo com minha própria vida, ah, vou sim, ou meu nome n?o é Samuel! Além disso, tenho que falar ao senhor sobre o meu personagem..."
"- Nada feito, Samuel... 312 pontos é muito."
"- Ah, ent?o tá."
Tendo ele falado isto, eu percebi que se aproximava de nós uma figura horrenda e macabra... Toda vestida de preto, da cabeça aos pés, esquelética como um saco de ossos, com a pele branca e ressecada como a de um morto-vivo... Meu coraç?o se encheu do mais puro terror no mesmo momento.
Minha garganta secou, e eu n?o conseguia falar uma única palavra, um único sussurro, um único gemido. Mas, ? medida que a terrível criatura se aproximava, com seu fedor horrível de mofo e bolor, recuperei as forças e disse a Samuel:
"- Um... um jogador de Vampiro, A Máscara!"
"- Sim, e vestido para um Live!"
"- É horrível! Vamos fugir!"
Samuel disse: "- N?o precisamos ter medo, querido mestre! É só um jogador de RPG como nós!"
"- N?o, n?o como nós! Voc? n?o ouviu sobre aqueles crimes que eles cometeram?"
"- Ora, mestre, n?o tente enganar o pobre Samuel! Qualquer idiota sabe que aquilo n?o tem nada a ver com o RPG!"
"- Talvez, Samuel, talvez, pois eu conheço estas figuras! Se eles saem vestidos assim na rua, jogam em cemitérios e ficam gritando a amplos pulm?es termos de RPG em Shoppings e outros lugares públicos, n?o se pode duvidar mais de nada!"
"- O senhor tem raz?o, mestre! Vamos fugir!"
Para nossa sorte, estava saindo um ônibus da parada naquele momento. Samuel, que estava ? frente, entrou correndo pela porta, se virou e me deu a m?o:
"- Pule, mestre, pule!"
Olhei para trás e vi que a figura corria atrás de mim. Tomado pelo pânico, corri mais ainda, segurei firme o Um Sistema e pulei. A figura parou, frustada, e eu vi que outras se juntavam a ela. Dentro do ônibus, mais calmos, encontramos dois amigos nossos: Mário e Pepe, dois jogadores do nosso grupo e meus primos por parte de m?e.
"- Oi, mestre, oi, Samu!", disseram. "Para onde v?o com essa cara de quem viu um jogador de Vampiro?"
Samuel me olhou. Eu disse:
"- Vamos todos ao MacDonalds. Lá eu explico para todos o que está acontecendo. O meu antigo mestre vai estar lá esperando pela gente."
E assim, todos fomos ao MacDonalds, enquanto começava a chover.
No entanto, n?o tínhamos idéia do que se passava longe dali.



INTERLÚDIO

Meu antigo mestre tinha ido procurar a orientaç?o de um amigo, um autor de RPG famoso no Brasil. Chegou ao lugar onde ele autografava umas cópias de Holy Avenger junto com uma desenhista que, ao contrário dele, era talentosa e simpática.
"- Ora, ora, ora, se n?o é voc?. Há quanto tempo n?o o vejo."
"- Preciso de sua orientaç?o, Cassaruman.", disse meu amigo. "- Voc? tem aqueles amigos na Steve Jackson Games, deve saber algo sobre como destruir o Um Sistema."
"- Voc? o achou?"
"- Sim. Esteve embaixo do meu nariz este tempo todo."
"- E voc? n?o o viu? Estes cards que voc? anda comprando devem ter deixado o seu raciocínio mais lento."
"- Voc? sabe que é só para colecionar. Mesmo assim, Cassaruman, devemos bolar um jeito de destruir o Um Sistema."
"- Destruir? Voc? deve estar brincando. O Um Sistema n?o pode ser destruído. A TSR vai encontrar quem o possui, e acabar com o seu dinheiro."
Neste momento, meu mestre olhou para um livro em cima da mesa de Cassaruman. Seu título era "GURPS Espada da Galáxia", e tinha um grande carimbo vermelho da Steve Jackson Games, onde se lia: "REJECTED MATERIAL. AWFUL QUALITY. METALIANS WITH BOOBS?!?! OH, GOD'S SAKE!"
Ent?o, meu mestre entendeu tudo, e disse:
"- Agora eu vejo tudo. Voc? sabe que a SJG tem bom gosto e senso do ridículo, e que por isso, n?o publicaria nunca 'GURPS Espada da Galáxia'. Voc? quer usar o Um Sistema para seus próprios propósitos! Isso é loucura!"
"- N?o me desafie! Logo, todas as mesas do mundo v?o estar jogando EdG d20, e meu cenário vai ser mais jogado que Kult, Witchcraft ou mesmo Alternity! HAHAHAHA!"
Desta forma, os dois iniciaram uma luta terrível. Jogavam dados e livros um no outro, cada vez com mais ferocidade e viol?ncia. No entanto, meu amigo pisou em um d12, escorregou e bateu com a cabeça. Quando acordou, estava preso no banheiro.


CAPÍTULO IV
DADOLARGO


Chegamos no MacDonalds. Chovia muito lá fora, e já estava escuro. Me dirigi ao caixa, para comprar mantimentos, e perguntar se n?o tinha visto meu antigo mestre.
"- Boa noite. Quero um BigMac, uma porç?o grande de fritas e um Sprite. E a propósito, n?o viu por aí um cara barbudo, alto e vestido com um moletom cinza?"
"- Moletom cinza? N?o, n?o. Aqui está seu pedido. O próximo!"
Desolado, me dirigi ? mesa onde me esperavam.
"- Ele n?o chegou. Deve ter acontecido alguma coisa."
"- Vamos esperá-lo mais um pouco. A propósito, primo, tem um cara te olhando desde que voc? entrou."
Vi ent?o que, em uma das mesas do fundo, uma figura me olhava. Estava de preto, também, mas era muito diferente dos jogadores de Vampiro: era bem-apessoada e sóbria. N?o tinha os trejeitos embaraçosos daquelas figuras em lugares públicos. Pelo seu porte físico, imaginei que até devia praticar algum esporte. Ou seja, um jogador de RPG realmente fora do comum. Procurei ficar mais calmo, e Perguntei a Mário e Pepe se o conheciam. Eles me responderam:
"- Ah, este cara nós conhecemos só de vista. Dizem que ele joga por aí há tempo, e que tem muita sorte nos dados, e por isso ganhou o apelido de Dadolargo. Pois só tira força 18/00 e nove ou dez nas jogadas de Pontos de Vida, quando passa de nível."
Mais calmo, comecei ent?o a explicar a eles o que acontecia. Eles me ouviam com atenç?o, principalmente quando eu falava do Um Sistema. Abri ent?o minha mochila para mostrá-los do que estava falando, e, assim que segurei o livro com a m?o direita, senti que uma m?o forte agarrava a minha gola, enquanto a outra facilmente recolocava o livro na mochila.
"- N?o t?o rápido", disse Dadolargo, "ou voc? n?o vai continuar jogando por muito tempo. Vamos conversar lá em cima."
Assim, ele me arrastou para o segundo andar do MacDonalds, e meus amigos vieram atrás. Logo que sentamos lá em cima, Dadolargo disse:
"- Voc?s correm grande perigo, ainda mais mostrando o que carregam assim, publicamente. Devem me seguir."
"- Como podemos confiar em voc?? Voc? deve ser como os outros, que tentaram nos pegar agora há pouco."
Neste momento, percebi que uma grande agitaç?o estava acontecendo lá embaixo. Espiando entre o corrim?o e a escada, vi uma cena horrível. Os nove jogadores de Vampiro entraram na lanchonete, todos vestidos de preto, da cabeça aos pés, e maquiados como mortos-vivos, com direito a sangue escorrendo dos lábios, dentes postiços e tudo o mais (eu sempre achei este um jeito MAGNÍFICO de manter a Máscara), aterrorizando todas as pessoas que se encontravam no MacDonalds. Gritavam coisas horríveis enquanto passavam pelas mesas:
"- Sou um Nosferatu! Vivo nos esgotos sugando sangue de ratos!"
"- E eu sou um Gangrel! Vou arrancar as suas tripas com minhas garras! JO-KEN-PO!"
"- E eu, como Tremere, vou fazer um ritual taumatúrgico, com muito sangue!"
"- Seu amador! Como Bali, vou fazer um ritual com o dobro de sangue que voc? usar, e vou desenhar um pentagrama invertido com vísceras de recém-nascidos!"
Dizendo isto, ele olhou para uma criança que montava Lego ali perto e a ameaçou. A criança correu, em pânico.
Todas as pessoas ali ficaram horrorizadas, pois todos ouviram o que eles disseram. As meninas dos caixas se escondiam, agachadas atrás do balc?o, derramando lágrimas de desespero. E as pessoas comuns que ali estavam comentavam umas para as outras:
"- Viu? Devem ser aqueles jogadores deste tal de RPG que a televis?o fala. Bem que o Pastor me avisou sobre eles, e olha que eu n?o tinha acreditado! Cruzes!"
"- Filhinho, logo que chegarmos em casa, voc? vai jogar aquele jogo de RPG que voc? tem no videogame fora! Isto é perigoso, bem que eu li no jornal!"
Samuel, que estava ao meu lado, ficou enfurecido, e quis partir para cima deles:
"- Malditos! S?o eles que acabam com a nossa reputaç?o! É por isso que eu tenho que manter em segredo o fato de eu jogar RPG no meu colégio! É por causa deles que a minha avó n?o fala mais comigo, achando que eu mato pessoas por aí!"
Dadolargo o segurou, e disse:
"- Faça sil?ncio, pequeno. Vamos esperar eles saírem e seguir nossa viagem. Eles s?o assim, escandalosos, pois eras atrás perderam o bom-senso. Eram apenas jogadores comuns, mas se viciaram com todos aqueles suplementos de World of Darkness, e por isso perderam a noç?o do que é real e do que é RPG. Agora, se sentem abandonados, pois as maiores mentes da White Wolf est?o
escrevendo para o Um Sistema, e esperam que a chegada de Vampiro para D20 d? novo fôlego ao World of Darkness."
"- E para onde vamos, Dadolargo?"
"- Vamos levar este livro maldito para a casa de uns amigos meus. Eles s?o sábios, e lá faremos um conselho para decidir o que vai ser feito dele."


CAPÍTULO V
UMA FACA NO ESCUDO


Compramos vários Big-Macs, pois Dadolargo nos avisou que a viagem seria longa. Saímos sem fazer alarde - pois as pessoas ainda estavam traumatizadas pelo encontro com os Jogadores Negros.
Durante a caminhada, Dadolargo nos adiantou sobre o conselho por ocorrer: Seria na casa de seu amigo Helton, um dos mais sábios e antigos jogadores conhecidos na cidade. Ele morava em uma casa muito bonita, em um bairro nobre da cidade, com um quintal enorme e cheio de árvores. A irm? de Helton era uma morena muito bonita, chamada Audrey, e era namorada de Dadolargo.
Saber disso nos encheu de respeito e admiraç?o por ele, pois poucos s?o os jogadores de RPG que namoram, ainda mais com mulheres bonitas. Ele disse também que, logo que chegássemos lá, poderíamos voltar para casa, pois ele e seus amigos, que eram grandes jogadores, tratariam de por um fim ao poder do Um. Isto, por si só, nos tranquilizou.
Caminhamos muito, por várias horas. Mário e Pepe, praticamente sozinhos, dizimaram nosso estoque de Big Macs.
Mas o pior ainda estava por acontecer.
Virando a esquina, estavam os nove Jogadores Negros. Ao nos ver, correram em nossa direç?o, com a boca aberta mostrando os horríveis dentes postiços de plástico, e grandes quantidades de Ketchup escorriam deles. Dadolargo tirou a mochila que carregava, e acertou um belo mochilaço na t?mpora do que estava na frente. Ele caiu, gritando horrivelmente:
"- Vou gastar um ponto de sangue e regenerar! Avise para o Narrador que eu n?o morri ainda!"
Mas eles eram muitos, e nos cercaram. Um deles agarrou Mário, e gritou:
"- Seu humano ridículo! Vou usar vicissitude e fazer voc? ficar com tr?s braços! Narrador! Narrador! Vou testar vicissitude!"
Samuel e Pepe lutavam bravamente, apesar de pequenos. No entanto, os Jogadores Negros restantes partiram para cima de mim. N?o pude resistir, pois eram muitos e muito maiores do que eu. Logo, um deles mordeu meu pescoço com suas presas de plástico, enquanto outro deles anotava um ponto de sangue a mais na sua ficha.
Neste momento, eu vi a coisa mais bela da minha vida.
Um Corsa havia parado na calçada, e dele saiu uma mulher linda, espetacular. Era sem dúvida alguma Audrey, a namorada de Dadolargo. Estava ainda com a roupa da aeróbica, um short branco e verde com top da mesma cor. N?o só era lindo seu rosto, como seu corpo também era magnífico.
Foi o que bastou para os Jogadores Negros: eles n?o estavam acostumados a ver mulher, muito menos uma assim t?o linda. Quase paralisados, começaram a recuar. Tentaram dizer algo, mas relembraram que haviam perdido a capacidade de falar de algo que n?o fosse RPG ou World of Darkness há muito tempo. Sem saber o que fazer, correram para longe.
Eu estava ainda caído, e Samuel veio me socorrer. Dadolargo recolocava sua mochila. Audrey, ent?o, se aproximou e me puxou para o colo dela:
"- Oh, coitadinho! O que aqueles retardados fizeram com ele! Olhe esta marca no pescoço! E esta maquiagem toda na roupa dele! Vou levá-lo de carro para meu irm?o Helton rápido, ou estas manchas de maquiagem v?o secar e manchar a roupa dele para sempre!"
Notei que ela havia apoiado minha cabeça sobre o seu peito, e sentia junto ? minha face aqueles maravilhosos seios. Oh, logo eu, um simples jogador de RPG, tendo contato físico com seios femininos! N?o pude conter a emoç?o, e logo perdi a consci?ncia em meio ?quela imensid?o branca e fofinha, torcendo apenas para que Dadolargo n?o percebesse o meu sorriso de satisfaç?o. Assim, desmaiei.


CAPÍTULO VI
O CONSELHO DE HELTON


Acordei ainda com aquela sensaç?o magnífica no rosto. Era a manh? seguinte, e eu estava em um quarto muito bonito e bem iluminado.
"- Enfim voc? acordou. Voc? passou a noite inteira aí babando e dizendo besteiras com um sorriso estranho no rosto", disse alguém ao meu lado.
Virei-me e percebi que era o meu antigo mestre, com um band-aid na testa.
"- Nós esperamos voc?, por onde andou?", perguntei.
"- Eu... eu sofri um contratempo." Sua express?o ficou séria. Logo depois, ele me contou todo o acontecido e como conseguiu escapar, quando a equipe de limpeza do sal?o onde estava o encontrou encolhido no ch?o no dia seguinte.
"- Ainda nesta manh?, passei no meu vizinho, peguei sua bicicleta mais rápida, a Scaloifax, mesmo sem pedir sua permiss?o, e vim para cá o mais rápido que pude. Sua tarefa acabou aqui, querido amigo. Helton convocou um conselho para hoje, para decidirmos o que será feito do Um Sistema. Eu, Dadolargo e os outros cuidaremos disso, e voc? poderá ir para casa com Samuel, Mário e Pepe."
Respirei aliviado. Estava livre do Fardo.
Pela tarde, nos reunimos ? beira da piscina de Helton. Várias pessoas que eu n?o conhecia, ou que tinha visto apenas de relance em convenç?es, estavam lá: de um lado, jogadores altos, magros, de cabelo comprido e camisa do Blind Guardian; de outro, alguns gordinhos e baixos, muitos dos quais com barba. Em uma cadeira, estava Dadolargo, agora melhor vestido (por insist?ncia da namorada), em outra, meu antigo mestre. Uma cadeira estava reservada para mim, ao lado de um estranho agitado. Helton ent?o falou:
"- Estranhos de grupos distantes, amigos de longa data, voc?s foram chamados aqui para responder ? ameaça da TSR. O RPG se encontra ? beira da destruiç?o. Ou nos unimos, ou perecemos. Traga o Sistema."
Em uma mesa no centro do grupo, eu coloquei o Um Sistema.
Todos se agitaram. Alguns comentavam:
"- Ent?o é verdade! A Devir publicou mesmo!"
"- O Sistema do Poder!"
"- A Ruína dos Jogadores!"
O estranho a meu lado, Ademir, sorriu e disse:
"- É uma dádiva! As regras devem ser legais! Podemos jogar isto para o bem! Veja como os desenhos s?o legais, e tudo... Por que n?o usar este livro?"
"- Voc? n?o pode jogar este Sistema", Dadolargo disse. "Nenhum de nós pode. Este Sistema serve para lucrar, apenas. N?o pode ser jogado."
Ademir o olhou, sério:
"- E o que voc? pode saber disso?"
Um dos rapazes com camisa do Blind Guardian, Leônidas, com cabelo loiro e comprido, se levantou:
"- Olhe como voc? fala com ele! Ele é filho de um milionário, herdeiro de uma das maiores empresas do país!"
Ademir sentou, reclamando:
"- Hmpf, filhinho-de-papai. Montado na grana, até eu namoraria aquela gostosa."
Meu mestre disse:
"- Dadolargo está certo. N?o podemos jogá-lo."
"Helton ent?o falou:
"- Só temos ent?o uma alternativa: devemos destruí-lo!"
Guilherme, um baixinho barbudo que tinha o apelido de Guile, deu um passo ? frente, pegou o livro e disse:
"- Estamos esperando o qu?, ent?o?"
Tendo dito isto, ele jogou o livro no ch?o, pisou em cima dele, tentou arrancar as folhas, mas foi tudo em v?o. Helton o parou, dizendo:
"- A encadernaç?o do livro é muito boa, assim como a qualidade das páginas. N?o podemos destruí-lo por qualquer modo que conheçamos. Devemos levá-lo até a gráfica da Devir, o lugar onde foi feito e único lugar onde pode ser destruído, e jogá-lo na máquina da qual ele veio."
Ademir falou:
"- Voc? n?o pode simplesmente entrar caminhando na Devir! Seus port?es negros s?o guardados por muito mais do que jogadores de Magic e Pokémon idiotas. Há um grande mal lá, e que nunca tem prejuízo. É uma empresa estéril, com cards, livros mal-traduzidos e toda a sorte de porcarias. Até o informativo deles é venenoso! Nem com dez mil reais conseguiríamos!"
Leônidas levantou a voz para ele: "- Voc? n?o ouviu nada do que Mestre Helton disse? O Sistema deve ser destruído!"
Guile disse:
"- Ah, e suponho que voc? vá sugerir que um f? de Metal pode fazer isso!"
Os dois se estranharam, e logo, todos começaram a brigar. Uns empurravam os outros, e Mestre Helton tentava apaziguá-los sem sucesso. Dadolargo levantava a voz, alguém aproveitava a confus?o para estrategicamente espiar por cima o decote da blusinha da Audrey, e ninguém se entendia.
Eu olhava para o Um Sistema ali parado. Sentia o grande mal nele, e, meio sem saber por qu?, disse:
"- Eu... eu vou levar o Sistema."
Todos me olharam pasmos.
"- Eu levarei o sistema até a Devir... muito embora eu n?o saiba o caminho."
Meu antigo mestre se aproximou e disse:
"- Eu ajudarei voc? a carregar este fardo enquanto ele estiver com voc?."
"- Se a vida ou morte de meus personagens puder proteg?-lo, eu irei."
Dadolargo disse.
"- Voc? tem as minhas fichas."
Leônidas disse:
"- E os meus dados!"
Guile completou:
"- E o meu escudo!"
Por fim, Ademir disse que me acompanharia até lá. Para minha surpresa, Samuel, Mário e Pepe, que espiavam tudo, vieram também. Helton disse, satisfeito:
"- Nove companheiros. Voc?s ser?o a Sociedade do Sistema!"
Assim, partimos logo após o meio-dia, levando nas mochilas latas de batata-frita-de-viagem Pringles, Gatorade, Fandangos e muitas latinhas de Fanta Uva.


CAPÍTULO VII
UMA JOGADA ATRÁS DO ESCUDO


Seguimos viagem a pé - com o preço da gasolina, n?o podemos ficar andando para lá e para cá de carro, além do que nove pessoas n?o ficariam exatamente muito bem acomodadas no Corsa da Audrey. Assim, iniciamos nossa jornada rumo ao mais horrendo e terrível dos destinos.
Conversávamos alegremente, contando histórias engraçadas sobre antigos acontecimentos em nossos grupos de jogo, e isso nos deixou de certa forma mais leves e animados. Até Ademir ria de nossas histórias, e contou algumas do seu próprio grupo.
Havíamos avançado mais de quatro quarteir?es sem descansar, o que foi um feito incrível, principalmente para o meu antigo mestre, que, apesar de muito sábio, era fumante. Deste modo, chegamos a um dos parques da cidade. Poderíamos cruzá-lo por dentro, poupando um valioso tempo, ou contorná-lo. Descansamos um pouco enquanto decidíamos o que fazer.
"- Devemos cruzá-lo por dentro!", disse Guile. "- Meu primo costuma jogar vôlei neste parque, e ele vai nos receber como reis!"
"- Eu acho que devemos ir por fora", disse Leônidas, "pois dizem lá onde eu jogo que tem um pessoal muito esquisito fazendo Live de Lobisomem neste parque."
"- Bobagem! Aquela porcaria nem vende mais, e além do qu?, na terceira ediç?o n?o tem mais Caern de pé!"
"- É, mas n?o devemos arriscar. Sabe como este pessoal que joga Storyteller é radical."
"- Vamos deixar que o Portador do Sistema decida!", disse o meu mestre. "- E ent?o, por dentro ou por fora?"
Eu pensei muito e, no fim, decidi ir por dentro, pois poderia ver várias meninas fazendo exercícios no interior do parque, mesmo que a chance de eu me envolver com uma delas fosse, na melhor das hipóteses, nula.
"- Vamos por dentro!"
"- Hehehe, voc?s v?o só ver como é legal ali dentro! E meu primo é muito bacana, vai emprestar a todos nós vários CDs de Playstation!", bradava Guile, sem esconder a sua felicidade.
Assim que entramos, vimos que n?o havia ninguém no parque, o que era muito estranho. No entanto, continuamos avançando, na esperança de chagar ?s quadras de vôlei e encontrar o primo de Guilherme.
Chegando lá, encontramos a quadra vazia. Um pedaço de papel estava no ch?o. Dadolargo pegou-o, e Leônidas disse: "- Uma ficha de Lobisomem! Eu avisei que n?o deveríamos ter vindo por dentro!"
"- Agora vejo tudo claramente... foi mesmo organizado um Live aqui, e quando os freqüentadores do parque souberam que iria ser jogado RPG por aqui, todos foram embora, pois n?o queriam ficar ? merc? de maníacos! N?o os culpo, eles devem ler jornais e ver televis?o!"
Percebi que Pepe, que estava muito cansado, havia se sentado na grama. Meu mestre pegou-o pelo braço, e gritou:
"- Peterson, seu trouxa imbecil! Saia da grama!"
N?o entendemos muito bem o motivo de sua irritaç?o e medo, mas logo ficou claro: os arbustos começaram a se agitar.
"- É tarde demais! Preparem-se!", Ademir disse.
Logo, um jogador de Lobisomem saiu dos arbustos. Estava trajado com um casaco de pele marrom, possivelmente de sua avó ou tia, e tinha pantufas de pelúcia da mesma cor. Tentava estar vestido de forma a parecer um urso, ou algum outro bicho inclassificável e peludo, e avançou para cima de nós.
"- Voc?s machucaram a graminha, e eu vou bater em voc?s, pois devo proteger Gaia e este Caern! Narrador, estou em crinos! Vou atacar, vou atacar!"
Logo uma porç?o de jogadores o seguiu, avançando para cima de nós, vestidos como cachorros, gatos, e outros com fantasias n?o menos ridículas e embaraçosas. Nosso primeiro impulso foi rir incontrolavelmente, mas isso só os enfureceu. Guile firmou bem as pernas, agarrou seu pesado GURPS Vehicles e gritou:
"- Venham, malditos! Vou mostrar a voc?s que há alguém neste parque que n?o joga Storyteller, ou meu nome n?o é Guilherme, filho de Glória!"
Neste momento, todos congelamos de medo. Uma voz conhecida veio de trás dos arbustos, dizendo:
"- Parem! Vamos organizar este Live! Quem está na Umbra, levante a m?o direita, e quem n?o está, levante a esquerda!""
Meu antigo mestre ficou imóvel de terror, e todos os jogadores do Live pararam. Ele disse ent?o:
"- É o Gordog, um demônio do mundo antigo! Ele trabalhava na Planeta quando ela ainda n?o tinha se mudado, mas teve que parar depois que ficou muito gordo para sentar atrás do caixa! Contra ele, nada vai funcionar! Fujam! Para fora do parque, para o viaduto!"
Assim, corremos, com todos aqueles jogadores ridículos atrás, e com os passos pesados do Gordog fazendo o ch?o tremer e ressoando nos nossos ouvidos.


CAPÍTULO VIII
O VIADUTO DE VARGAS-D?M


Corríamos desesperados pelo curto espaço que separava o mundo exterior do local onde era realizado o Live. Atrás de nós, gritos ferozes, rugidos, latidos, e toda espécie de som que um humano mentalmente sadio n?o emite, mesmo com a desculpa de estar participando de um Live-Action. E, na frente dos jogadores, corria aquela gigantesca massa de p?lo e banha, o Gordog,
trazendo consigo o fedor de eras, pois há quatro anos estava gordo demais para limpar as próprias costas quando tomava banho.
Já vislumbrávamos, bem na nossa frente, o viaduto da Avenida Presidente Vargas, imponente e ameaçador, passando sobre o intenso fluxo de automóveis e caminh?es lá embaixo.
"- Para o viaduto, rápido!", gritava meu antigo mestre. "- Lá eles n?o ter?o coragem de nos seguir!"
E assim atravessamos o viaduto, correndo como loucos. Os jogadores de Lobisomem, que um dia já foram pessoas normais, n?o nos seguiram, tendo vergonha de sair do parque e ir vestidos para a rua daquela forma. No entanto, o Gordog nos seguia, e podíamos ver que, por trás daqueles óculos, a raiva brilhava em seus olhos, pois fazia muito tempo que nós n?o comprávamos nada na sua loja.
Logo que cruzamos a metade do viaduto, meu mestre disse para Dadolargo:
"- Leve-os para longe daqui, é seu dever agora liderar a comitiva!"
Dadolargo relutou, mas deixou-o para trás. Nos separamos do meu antigo mestre, que parou bem no meio do viaduto, virou-se e encarou a horrível besta - em todos os sentidos:
"- Eu sou o guardi?o das regras no meu grupo! As notas verdinhas dos trouxas que compram na sua loja n?o ir?o ajudá-lo agora! VOC? N?O VAI PASSAR!"
O ser horrível rugiu, lançando o bafo de alho e azeite de oliva de quinta categoria do barzinho da esquina. Meu mestre cambaleou, mas por pouco tempo. O Gordog ent?o avançou, procurando forçar a passagem, mas meu mestre o deteve, segurando-o pelos pulsos. O demônio de banha perdeu o equilíbrio, e encostou sua horrenda traseira no parapeito do viaduto.
Foi demais para a frágil estrutura de cimento e aço, que quebrou-se como uma maquete de série japonesa. O Gordog caiu, desaparecendo da nossa vis?o quase por completo.
Porém, sua m?o vil e asquerosa se segurou no cinto da calça do meu mestre, e o puxou para baixo.
Meu mestre, desequilibrado, se debruçava sobre a beirada destruída do viaduto, agüentando pelo cinto as várias centenas de quilos do Gordog. Olhou-nos, com um olhar de desespero e esforço, e disse:
"- Fujam, tolos!"
Eles ent?o caíram, desaparecendo no profundo abismo de cimento, asfalto e metal.
Todo o resto passou como um pesadelo. Dadolargo nos impedia de voltar, gritávamos e chorávamos muito. Apesar do barulho da avenida, n?o ouvíamos nada mais a n?o ser a batida de nossos coraç?es, chocados pela horrível cena, aflitos com a perda de um grande amigo. O nó em minha garganta impedia que eu gritasse ainda mais.
Dadolargo e os outros nos afastaram dali. Sentamos em uns banquinhos mais além, chorando. Pepe apoiava a cabeça no ombro de Mário, que tentava consolá-lo. Sentia uma enorme sensaç?o de perda e vazio, apenas comparável ? sensaç?o que senti no meu bolso quando deixei o cinema após ver Dungeons & Dragons. Apesar de ter gasto apenas tr?s reais para ver aquele filme, senti como se tivesse perdido uma fortuna.
Meus pensamentos foram interrompidos por Dadolargo, que nos colocava de pé.
"- Vamos, vamos! Leônidas, Guilherme, Ademir, ponha-os de pé! Temos que seguir viagem."
Iniciamos ali, com o coraç?o pesado, uma triste caminhada até a margem do rio que cruzava a cidade.


CAPÍTULO IX
O N?O T?O GRANDE RIO


A saudade e a dor da perda de um grande amigo fizeram com que nossa caminhada até o rio fosse silenciosa. Após sentirmos o típico cheiro de poluiç?o de um rio que cruza uma cidade grande, com toda a sua acumulaç?o de dejetos e imundície, ficamos ainda mais tristes, mas apertamos o passo, chegando rapidamente ? sua margem. Dadolargo tirou a mochila, sentou-se na
grama e disse:
"- Aqui estamos, pessoal. Vamos esquecer o que passou e procurar arejar a cabeça. Temos que nos concentrar em cumprir a tarefa que a nós foi destinada. Seguindo o curso deste rio, chegaremos ao bairro negro onde está a Devir."
Percebi que Leônidas, com seus ouvidos aguçados e bem treinados que apenas um f? de Blind Guardian possui, estava inquieto. Sem dúvida, ouvia alguma coisa ao nosso redor, algo muito suave para ser notado por jogadores normais.
Ao olhar para trás de uma árvore próxima, no entanto, eu mesmo vi um ser que acabava de se esconder atrás dela. Pude notar que era deformado, apenas uma sombra de ser humano, e andava encurvado e sorrateiramente como um rato... sua pele era branca e nojenta, seus olhos eram fundos, e ele se vestia apenas com trapos.
Corri para Dadolargo e falei:
"- Dadolargo, há alguém nos seguindo!"
"- Eu sei, está nos seguindo desde que deixamos a casa de Mestre Helton. É o Mallum, um ser vil e nojento. Seu nome é Mallum, pois é uma mala-sem-alça: sua chatice é lendária em todos os grupos de jogo da Terra. Ele é do tipo que liga para a sua casa ?s tr?s da madrugada para perguntar detalhes irrelevantes sobre regras ou uma cena que voc? narrou, acordando assim a sua família toda com o barulho do telefone. Sua pele é branca assim pois n?o sai de casa, ficando recluso ao seu quarto planejando insistentemente aventuras e rolando milhares de PCs e NPCs, só para se divertir. Seu corpo é assim deformado pois passa dezoito horas por dia sentado, debruçado sobre suas anotaç?es. Seus braços n?o s?o simétricos pois ele fica o dia inteiro rolando dados com a m?o direita, e com ela também faz coisas inomináveis que eu n?o ousaria dizer aqui. Pois s?o estas as únicas coisas que sabe fazer: n?o trabalha, pois n?o sabe que há um mundo lá fora, n?o estuda, pois acha que decorar as regras de um livro de RPG é o suficiente para viver uma vida feliz, n?o se alimenta, a n?o ser pelos eventuais insetos desafortunados que voam para dentro de sua boca aberta quando dorme, e se veste apenas com trapos pois n?o tem vida social, o que o faz n?o ligar para a apar?ncia e n?o ter amor próprio. Pois ele ama e odeia o Um Sistema, assim como ama e odeia a si mesmo."
"- O Um Sistema? O que tem ele a ver com o Um Sistema?"
"- Foi há algum tempo, quando Mallum ainda era chamado de Smélecol pelos seus amigos. Quando seu antigo mestre achou o Um Sistema na loja do Gordog, Smélecol estava lá também. Pois os dois viram o livro ao mesmo tempo, e como só havia um na prateleira, ficaram com um impasse, sem saber quem o levaria para casa. Smélecol, ardilosamente, propôs que resolvessem o impasse por meio de um jogo de Magic, pois estava com um baralho pronto no bolso cheio de cartas apelonas. Mas seu antigo mestre foi mais astuto, e utilizou aquele velho combo de queimar pontos de vida para aumentar o dano da bola de fogo. Assim, ele venceu o Mallum, e levou para casa aquele livro, sem saber que se tratava do Um Sistema. Após isso, Mallum enlouqueceu: Leônidas e seus companheiros tiveram muito trabalho, tentando manter Smélecol afastado do RPG, mas ele por fim abandonou o colégio de novo para se dedicar ao vício."
"- É uma história triste", eu disse. "- E n?o sei se odeio o Mallum ou sinto pena dele."
"- Vamos esquec?-lo por hora. Logo vai escurecer, vamos catar por aí umas folhas de jornal e gravetos para que possamos fazer uma fogueira dentro deste tonel e nos aquecer."


CAPÍTULO X
O ROMPIMENTO DO GRUPO DE JOGO


Seguindo a orientaç?o de Dadolargo, fui coletar alguns papéis para que pudéssemos fazer uma fogueira. Como estávamos perto de um semáforo, isto n?o foi difícil, pois o meio-fio estava cheio daqueles anúncios de ofertas de supermercado que os panfleteiros distribuem ?s turras para os motoristas.
Percebi que Ademir estava por perto. Ele me olhou com surpresa, como se tivesse me encontrado por acaso, e disse:
"- Oi! Voc? vem sempre aqui?"
"- Afaste-se, Ademir. Eu sei o que voc? quer."
"- Eu? Ah, eu! É mesmo, é mesmo... bem, será que voc? poderia me dar uma emprestadinha neste livro aí?"
"- Prefiro emprestar a minha irm? a voc? do que este livro", disse eu. "- Ou voc? n?o ouviu todos os avisos de Helton?"
"- Ah, que mal pode haver em mestrar só uma aventurazinha? Vamos, sente aí, vamos jogar só uma aventurazinha, nem que seja solo, por favor!"
"- Saia!", gritei eu. "- Afaste-se de mim!"
"- Ora, seu moleque! Me d? este livro!"
Ademir avançou para cima de mim, e eu esquivei de sua agarrada. Ele tropeçou, caiu no ch?o e começou a chorar:
"- Meu Deus! Onde eu estava com a cabeça! O que eu fiz! Me desculpe, me desculpe!"
No entanto, já estava longe dali. Segurei forte o Livro, e quando fiz isso, quase cambaleei, pois vi, na minha frente, o símbolo da TSR, enorme, e atrás dele, apenas a escurid?o e a falta de criatividade. Apavorei-me, guardei o livro na mochila, e corri de volta para o lugar onde estávamos reunidos.
Chegando lá, peguei minhas coisas. Estava decidido a partir sozinho, pois n?o desejava que meus amigos corressem riscos por minha causa. Dadolargo, apesar de certamente n?o concordar, me entenderia. As coisas estavam fugindo do controle, e se eu continuasse por ali, o incidente com Ademir com certeza se repetiria, com o Poder do Sistema corrompendo um após o outro.
Estava prestes a partir só, quando Samuel me viu e gritou:
"- Mestre! Mestre! O senhor n?o pode abandonar assim o pobre Samuel! Eu jurei que iria acompanhá-lo, ou meu nome n?o é Samuel! Além do qu?, tenho que negociar com o senhor aquelas desvantagens do meu personagem..."
"- Ok, ok, Samuel! Vamos juntos! É claro que eu deveria ir com voc?! Nós somos uma dupla perfeita! Afinal de contas, voc? é o meu melhor amigo!"
Nos abraçamos como irm?os, e seguimos o curso do grande rio, em direç?o ? Editora Negra, com a certeza que, embora tivéssemos pouca ou nenhuma chance na miss?o, de nossa perseverança e coragem dependia a liberdade do mundo RPGista.


Aqui termina A SOCIEDADE DO SISTEMA, a primeira parte de O SENHOR DOS SISTEMAS. A próxima parte da história se chama AS DUAS EDITORAS, pois trata da luta da Sociedade do Sistema, agora desfeita, contra a editora de Tramatanc, na planície de Vendecard, a fortaleza de Cassaruman, e a torre escura de Planet-D?r, no bairro negro perto da Editora da Perdiç?o, Devirruim.

"

Bom! Acabou, por hora!
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